1. |
Bagagem
03:51
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Sabe, amigo, às vezes a gente precisa parar
E examinar
A nossa bagagem
De repente a gente se vê
Pesado demais e é muito difícil
Vira um sacrifício
Seguir a viagem
A gente precisa botar a sacola no chão
E olhar bem tranquilo pra tudo aquilo
Que tava carregando
Porque se ocê segue assim sem parar
E não olha pra dentro
Ocê vai guardando
Pesando, pesando
Guardando a bagunça de algo ou alguém
Que ficou para trás
E não volta mais
Vai virar outra coisa
E que bom que as coisas vão se transformando com tempo
Senão ia ser tudo tão previsível, tão chato
No nosso trajeto
Eu cheguei num ponto que não mais me reconhecia
Os amigos qu’eu via tavam me perguntando
Por que tá tão tristinho?
Então percebi que chegou o momento de me dar um tempo
Poder separar direitinho o joio do trigo
E seguir meu caminho
Isso aqui não é meu
Isso aqui, também
Isso aqui, pode ser
Esse ressentimento perdeu validade, não carrego mais
Isso aqui é meu, sim
Isso aqui, talvez
Isso aqui, eu não sei
Tava todo empoeirado guardado no fundo, quanto tempo faz?
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2. |
Tem Dor
03:53
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Tem dor que corre atrás da gente
Tem dor que a gente vai atrás
Tem dor que é um pouco ausente
Não manda flores, nem chama pra jantar
E num piscar de olhos
Tá deitada na tua cama
Nua, linda e louca
Querendo algo mais
Tem dor que (parece que) brota do sofá
Quando tu percebe a mazela
A bichinha tá assaltando a geladeira
No intervalo da novela
Tem dor que vem de mansinho
Como um bichinho no portão
Que vem pedir comida
E ganha teu coração
Tem dor que corre atrás da gente
Tem dor que a gente vai atrás
Às vezes a dor seduz
Lhe chama pra dançar
Arrocha o teu peito
E não quer mais largar
Mas às vezes, é tu que abre a porta
Faz a cama, dá toalha
E arruma escova nova
E insiste pra ficar
Por mais que se esforce
Pra não apegar
Tem dor que corre atrás da gente
Tem dor que a gente vai atrás
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3. |
Muitas Casas
04:24
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Eu sou o tipo de pessoa
Que pode transformar tudo em sua casa
Qualquer coisa
E qualquer lugar
Pode ser a minha casa
(Eu já tive muitas casas)
Um butequinho fulêro
No Largo da Batata (Osasco)
O sofá da casa de um amigo meu
Até uma cadeira
E uma prateleira
Foram minha casa por um tempo
Metrópoles barulhentas
E uma praia bem sem graça
E é bem comum fazer de alguém a minha casa
(O que é um problemão!)
Hoje eu tava indo
Pra uma das minhas casas
E eu senti falta de uma outra
E pensei nas muitas casas
Que ainda esperam por mim
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4. |
Xote Chato
02:59
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fiz um xote chato que chateia
acho que foi a intenção de agradar
fiz um xote chato que pentelha
mais do que abelha
no seu café
tô percebendo que assim num vai dar pé
fiz uma melodia bem pentelha
mais grudenta que essa minha
tou pra ver quem vai inventar
peguei uns motivo bem gratuito
uns versinho ritmado
pra melhor cadenciar
porém
eu sei que não é muito
uma razão que certamente
ocêis vão ver
num vai dar fruto
mas se eu lhes conto o intuito (ai ai)
ocêis vão se admirar
fiz um xote chato (pra chuchu)
fiz um xote chato (pra xaxar)
fiz um xote besta
mei sem pé, mei sem cabeça
só pra vê o povo dançar (e xaxar)
fiz um xote chato (pra chuchu)
fiz um xote chato (pra xaxar)
fiz um xote besta
mei sem pé, mei sem cabeça
um xote bem abobalhado
só pra vê o povo dançar
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5. |
Pico do Jaraguá
03:19
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Da janela do ônibus eu vejo
Quase que durante todo o percurso
Fora as horas que a gente passa pelas quebradas
Tem um monte de casa remendada
Tapando a visão
Daí o trajeto vai ficando mais feio
o Pico lá em destaque e eu lembro no meio
Que três e oitenta é caro pra chuchu
Não tem Corcovado, nem Redentor
Guanabara... é o meu bairro que alagou
Olho pras antenas de rádio difusor
E me sinto feliz
Lá é mais chique que Paris
Com o Pico do Jaraguá
(Pico do Jaraguá)
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6. |
Querência
03:54
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Hoje moro na ausência
Vivo longe
Meio indefinido
Indefino o meu lugar
De pertença
Passos soltos sem cadência
Não há ritmo, nem pasto
Onde passo faz-se ar
Hora suspensa
Ruminando desavenças
Desavenças entre mim
E o meu regaço
Que é de onde mais me afasto
Não por ter certo desgosto
Mas porque o mês de agosto
Me dá ânsia e persistência
De seguir o inalcançável
A querência é até
O lugar que não mais se quer
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7. |
Próximo Passo
03:21
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Hoje eu comentei com ela:
— Vamos fazer o seguinte
Em relação a eu e você
Vou te deixar dar o próximo passo
Já falei tudo qu’eu tinha pra te falar
Eu já me declarei
E dei passos extremamente perigosos
Andei beirando um abismo
Agora você dá os passos na minha direção
Quando você se sentir preparada
Pra receber o que eu tenho pra te dar
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8. |
Cafuné
03:18
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boto o gato no colo
e você tá tão longe
o desejo do tato
que nunca se esconde
e à carícia saudosa
só o bicho responde
o que eu queria
era ter alguma fé
mas o qu'eu queria mesmo
era o tempo dando ré
e achar que essa bossa inda dá pé
olha, quem sabe
um dia desses eu te ligo
e com coragem
cafonices eu te digo
pra te fazer um cafuné
no teu ouvido
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9. |
Cosinha (Pra Depois)
04:20
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Vou jogar na prateleira
E ficará lá
À distância de um braço
Um dia ou meses
Com livros e vontades, pegando pó
Na próxima arrumação
Vai para o fundo da gaveta
Fazer companhia pros meus desenganos
Esperando
Até quando, eu não sei
Numa caixa de papelão
Em cima do armário
Mal não ficaria
Com uma porção de mimos
Mimimis e mumunhas
Fofocando, envelhecendo
Se eu tivesse um baú
Talvez colocasse lá
Mas talvez
O seu lugar
É mesmo o porão
No escombro
No entulho
(Meu bem)
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10. |
Herança de Portugal
04:47
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De todos os males
que vieram
de Portugal
Excluindo-se aqui
a evidente
e canalha
exploração
O pior de todos,
sem dúvidas
É a palavra
“saudade”
Ah, saudade! Ah, saudade!
Um sentimento aldrabão
Ah, saudade! Ah, saudade!
Que maldade!
Herança malquista,
dívida póstuma
Tivessem eles jamais pisado
no Brasil
Felizes, chamaríamos
uma falta doída de indigestão
E os nossos mais belos poemas
Seriam aqueles
que estudassem
O comportamento estranho do intestino
Quando longe do lugar
Ou da pessoa amada
Ah, saudade! Ah, saudade!
Um sentimento aldrabão
Ah, saudade! Ah, saudade!
Que maldade!
Desde que eu parti, há movimentos estranhos
Contínuos e cíclicos dentro de mim
Sentir falta do que eu tinha me ocupa todo o tempo
E faz do meu próprio corpo toda uma indigesta esfinge
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Guilherme Kafé São Paulo, Brazil
Singer-songwriter and multi-instrumentalist from SP outskirts. Participates of a new scene of songwriters in São Paulo,
Brazil.
-
É um cancionista e multi-instrumentista osasquense.
Participante ativo de uma nova cena da canção autoral em São Paulo.
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